Sunday, August 26, 2007

Festival de Verão


A Kate está de partida. Vinda do interior profundo dos EUA, estado de Tenessee, veio para passar o Verão connosco. Trouxe na bagagem um problema interessante sobre nanofibras de carbono mas que infelizmente foi impossível de resolver com os nossos microscópios. Parte daqui a uns dias de volta para a terra do country e folk americanos, vai com a mala cheia de estórias para contar aos amigos sobre o país do sol nascente.
Por aqui, entre festivais de Verão e o Campeonato Mundial de Atletismo, o tempo continua quente e húmido. Mas, finalmente, arranjei tempo e espaço para fazer um pouco de praia. Uma coisa boa do NIMS é que, pelos meses de Julho e Agosto, eles invariavelmente reservam dois quartos de hotel na localidade costeira de Ajigaura para usufruto dos funcionários. Assim, querendo passar uns dias de praia é só fazer reservas na secção dos trabalhadores e depois apresentar o talão de reserva no hotel. Quarto pago cortesia do NIMS – sabe bem! Fomos três (eu, o Ujjal e a Chamini) para a praia, não muito longe de Oorai. Na verdade, já lá tinha estado há uns tempos atrás. Nessa altura, foi o Ujjal que fez a reserva. Mas tivemos um azar dos piores! Foi nesse fim-de-semana que houve o terramoto que quase destruiu a central nuclear e para além disso, tivémos de enfrentar um tufão. Claro que praia só vê-la da janela do quarto. Sábado e Domingos desastrosos aqueles! Desta vez, as coisas foram diferentes. Estava um sol radiante (que me deixou um escaldão como já não tinha há muito tempo!), nem uma nuvem no céu, a praia cheia de gente, e ainda deu para dar uns passos de dança havaiana. Engraçado é o sistema de segurança deles - um cordão para os banhistas não passarem um certo limite dentro da água. Na Austrália usam isto mas é mais para protecção contra os tubarões e as cordas são na verdade redes que impedem invasões subaquáticas! Aqui nada-se até à corda, digamos uns 100-200 metros e Prontos! Não há cá mais nada pra ninguém! Para além disto, os japoneses adoram as bóias e apetrechos. Engraçados era ver os duros dos yakusa-man cheios de tatuagens e com umas boiazitas em redor da cintura! Cómico no mínimo.
Nesse fim-de-semana fui também a Mito (capital do distrito de Ibaraki, do qual Tsukuba faz parte), para fazer mais uma apresentação sobre o meu país. Enfim, se isto continua, monto uma loja itinerante para fazer apresentações sobre Portugal. Coisas de ser o único tuga neste distrito! Enfim, lá fui eu até ao Centro Internacional de Mito para uma conversa de duas horas sobre Portugal. O Powerpoint era mais ou menos o mesmo de há uns meses atrás quando tive a apresentação aqui na minha residência. Na altura, não tive tempo para fazer as coisas ao meu gosto. Desta feita, as coisas correram melhor.
Entretanto, como disse acima, é tempo dos festivais de Verão aqui no Japão (Matsuri). Em Tsukuba, foi neste fim-de-semana e tivémos uma série de actividades programadas desde desfiles a maratonas de cinema. Já me esquecia – na senda dos festivais de Verão, o festival da Ninomiya House foi um sucesso. A banda de percussão taiko da qual fiz parte, foi bem recebida e tivemos direito a ovação e mesmo repetição! No final, foi uma noite engraçada para a qual muitos dos residentes ofereceram ajuda tanto na organização como na participação do espectáculo. E pela primeira vez, tive contacto com um grupo de capoeira aqui no Japão. Penas que apenas dois dos elementos falassem brasileiro. Mas soube bem ve-los aos pulos, a dançar ao ritmo do berinbau. Para vosso deleite, fica aqui a foto-testemunha do evento. Tive direito a Yukata (kimono de Verão) e um novo look pensado expressamente para o evento – lol.

Monday, August 13, 2007

Lições de História

Já estamos em Agosto. Este é o mes das cigarras e do tempo húmido, quente, abafado. Mal se respira, a cada passo transpiramos.
Os japoneses são engraçados. Poucos usam óculos de sol, isto embora por vezes o sol seja de tal forma forte que cega. Por outro lado, as japonesas andam sempre terrivelmente preocupadas com qualquer exposição solar. Não é tanto uma questão de melanomas mas mais uma tremenda susceptibilidade cutânea ao aparecimento de manchas e sardas permanentes. Assim, uma percentagem significativa da população feminina anda de chapéu de sol, ou quando saem a rua, levam todo o arsenal atrás, i.e. luvas, protector solar tipo ecrã total, chapéus, medidores UV, etc. Enfim, passam mal e praia nem sonhar para esta gente.
Entre saídas noctívagas em Roppongi, Shinjuku e Shibuya, Tóquio esta sempre a mexer, cheio de estrangeiros e com uma quantidade de discotecas que simplesmente não fecham, com muita gente na rua a qualquer hora da noite. Curiosamente, esta cidade tem uma movida de Jazz bastante interessante. Entre aqueles que já visitei conta-se o Cotton Club. Alguns destes clubes são até bem famosos como o piano bar do filme Lost in Translation, sito no impressionante edifício do Park Hyatt Hotel. Quanto as vistas nada a apontar, perfeito! No que toca a acústica - péssima. Os cocktails não são grande coisa e como seria de esperar é muito, muito caro. Para ir apenas em raras ocasiões, tipo para impressionar os amigalhaços ou as miúdas.
Entretanto, comecei finalmente as aulas de pintura (aguarelas japonesas ou sumi-e). Aos sábados de manha, semana sim, semana não, lá vou eu de pincel, tintas e telas para duas horas de rabiscos e gatafunhos, tinta derramada e espalhada como cinza em papel fino. A senseei (prof) não fala uma palavra de inglês o que por vezes torna a coisa algo complicada. Mas devo dizer que acho não só extremamente interessante mas mais do que isso, relaxante. Sinto-me como de volta aos tempos da pré-primária! Ainda nos Sábados comecei também umas aulas de yoga. Já por diversas vezes tinha pensado experimentar, agora foi de vez. Uma hora de alongamentos e contorcionismos, intervalados com sessões de relaxamento e meditação. A certa altura tanto era o relax e o calor lá fora, que quase adormeci estendido no tapete!
Na senda das actividades culturais ando também a aprender wa-daiko (ou Taiko, como é conhecido fora do Japão). São tambores tradicionais japoneses, alguns dos quais podem ser enormes, a pesar mais de 2 toneladas! Caríssimos também, pois são como obras de arte, feitos a partir de um único tronco de árvore. Isto pois dentro de uma semana temos o festival de Verão da Ninomiya House, onde moro. Durante as duas ultimas semanas, sextas pelas 19h00, tem sido duas horas de batucada forte, num ginásio que mais parecia uma sauna de tão quente e húmido, sem ar condicionado. Perdi, pelo menos litro e meio de água por transpiração, e aquilo puxa mesmo pelos braços, mas andar a bater nos tambores é do melhor que já vi para dar cabo do stress!
A última sessão do clube Oxbridge, levou-nos até à Base Naval Americana de Yokosuka. Realmente só vendo estas bases é que um individuo se apercebe do poderio militar dos USA. Num pais tão distante como o Japão, nesta que uma das varias bases americanas da região, eles nao so detem uma enorme extensão de terreno na entrada da baia de Tóquio, mas ainda por cima e o governo japonês que paga cerca de 70% das despesas! Trabalham aqui uns bons milhares de americanos, esta fatia do Japão funciona numa economia paralela. Funcionários e militares são pagos em dólares, tudo é transaccionado nessa moeda, os produtos são americanos, etc. Visitámos o navio principal da esquadra do Pacifico, o Blue Ridge. Este é o cérebro da esquadra, onde o comandante tem poiso. Durante as cerca de 4 horas que por ali andamos mostraram-nos o sitio onde desembarcou o primeiro navio americano no final WWII bem como onde foi assinada a rendição do Japão. Uma lição de história contemporânea. No final tivemos direito a jantar na messe dos oficiais.