Saturday, January 06, 2007

O-misoka 2007

Chegámos a Asakusa com tempo para gastar. Pouco passava das nove da noite mas já as ruas, ainda decoradas de Natal, se encontravam cheias de uma multidão ávida para receber o novo ano. A Christina (EUA), a Chamini (Austrália) e eu tínhamos decidido assistir àquela que é porventura a mais famosa celebração religiosa da passagem de ano em Tóquio. No centro do bairro de Asakusa, o complexo religioso que alberga o imenso templo budista Senso-ji, é uma referência perene para japoneses e turistas.
Saímos de Tsukuba sem jantar pelo que decidimos parar num restaurante de sushi. Uma casa de pasto banal, daquelas com um tapete rolante de onde uma pessoa retira pires ao sabor do apetite e os empilha como num jogo de Lego para controlar o que se vai comendo. Antes, passámos pela entrada do complexo onde as massas afluíam ordeiras. Imersas no frio seco e límpido de Dezembro, corredores pontilhado de luzes festivas, filas de gente esperavam pela sua vez para poderem entrar no Senso-ji quando este abrisse as suas portas daí a três horas, à meia-noite.
Dez horas e o restaurante fechou, para nosso desgosto. Entrámos no complexo curiosos pelas numerosas barracas de venda ali dispersas. Brinquedos, souvenirs, amuletos, roupas, comida e bebida, ... Engraçado como me lembraram na disposição aquelas que todos os anos povoam a Feira do Livro no Parque Eduardo VII - saudades de Lisboa.
Finalmente, à falta de melhor, seguimos o rebanho, juntámo-nos à multidão expectante. Ali esperámos, entre estórias e jogos tentando esquecer o tempo lento, teimoso. Passou-se hora e meia e o gentio engrossava a olhos vistos. Entretanto conhecemos uma rapariga de Zagreb que ali tinha vindo a conselho de amigos. A nossa nova companheira informou-nos de uma cerimónia que deveria ocorrer ali no recinto, talvez com mais interesse que calcorrear um templo de uma religião da qual nenhum de nós era praticante. Honestamente, fiquei aliviado por poder fugir da horda compacta e imóvel. Assim andámos a explorar o complexo até encontrarmos o sino de Senso-ji. Este sino é um importante símbolo do templo e, durante as celebrações do ano novo (o-misoka), é tocado 108 vezes (chamam-lhe joya-no-kane). Porquê 108? Segundo os costumes budistas 108 badaladas representam outros tantos defeitos humanos que expiamos (inveja, ira, desejo, ...). Uma lavagem espiritual, portanto. Desta feita, a cerimónia começou pouco depois da meia-noite terminando lá pela 1h30. Cada badalada foi executada por um cidadão diferente, normalmente membros ilustres da comunidade local. Entretidos com o sino, quase esquecemos o templo. Tinham aberto as portas e ondas de gente, controladas pela sempre zelosa forca policial, subiam a par e passo os degraus que os levavam até ao interior do Senso-ji.
E assim se recebeu 2007. Feliz ano novo!

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