Tinta da China
Mais uma noite de tremores, daqueles só para chatear um gajo. 3 da matina de segunda-feira, ferrado no sono, quando sinto a minha cama tremer por cerca de 30 segundos. Nada de muito forte mas o suficiente para acordar despercebido e espantar o sono por umas horas! Enfim, temos de viver com estas coisas.
Nestes dias tenho andado ocupado a experimentar umas aulas de caligrafia japonesa. Dadas aqui na residência, vamos ter três sessões onde tentaremos copiar caracteres japoneses (kanji, hiragana e katakana) para o papel tipo mata-borrão. Como tinta, usamos sumi. O modo de preparação do sumi tem um certo cerimonial pois temos de raspar um bloco sólido numa placa própria usando dissolvente e uns movimentos ora de vaivém, ora circulares. Portanto, há uma receita a seguir e a preceito. O resultado final parece-se muito com tinta da china. Para aqueles que viram o filme de Peter Greenway “Pillow Book” podem contemplar um pouco o quão artístico e intrínseco da cultura asiática representa a escrita de caracteres. Caligrafia, mais que uma questão cultural, era usada antigamente para ilustrar o estatuto social e intelectual nas populações chinesa, japonesas e coreanas. Voltando ao presente... bem me esforço para reproduzir aqueles traços redondos e fugidos. Mas não me serve de nada bramir gestos inúteis com o pincel e esparramar caoticamente a tinta nas folhas A4 – há, de novo, uma forma e ordem correcta de os fazer, de quanta forca aplicar, de como posicionar as mãos. Cada fio do pincel tem de ser domado, a forma como cada um daqueles traços está desenhado é a diferença entre uma obra de arte e um rabisco sofrível. Caligrafia, agora percebo, é uma arte maior.
E foi nestes afazeres que no último Sábado acabei por ir a um museu dedicado ao poeta zen Mitsuo Aida em Tóquio (o qual era também admirado pelas suas qualidades de calígrafo). Devo dizer que muito do que estava escrito me passou despercebido (kanjis não são o meu forte!) - tinham umas traduções em inglês mas estas pareceram-me bastantes fracas na forma. Enfim, para mim foi mais uma questão de apreciar a beleza estética de bem escrever. Este museu fica no Fórum Internacional de Tóquio, o qual já aqui descrevi. Esta visita foi, na verdade, um compasso de espera para ir assistir a um leilão de arte moderna a convite da Keiko. Os lotes eram sobretudo arte moderna japonesa, séculos 19 e 20. Alguns exemplares interessantes e uma série deles a chegarem a uns valores exorbitantes. Os lances estavam tão rápidos que uma pessoa até tinha medo de se mexer não fosse o diabo tece-las e o homem do martelo enganar-se e pensar que estávamos a oferecer uns valentes milhões de ienes pelo colorido quadrado exposto à nossa frente!
Gambette kudasai!
Nestes dias tenho andado ocupado a experimentar umas aulas de caligrafia japonesa. Dadas aqui na residência, vamos ter três sessões onde tentaremos copiar caracteres japoneses (kanji, hiragana e katakana) para o papel tipo mata-borrão. Como tinta, usamos sumi. O modo de preparação do sumi tem um certo cerimonial pois temos de raspar um bloco sólido numa placa própria usando dissolvente e uns movimentos ora de vaivém, ora circulares. Portanto, há uma receita a seguir e a preceito. O resultado final parece-se muito com tinta da china. Para aqueles que viram o filme de Peter Greenway “Pillow Book” podem contemplar um pouco o quão artístico e intrínseco da cultura asiática representa a escrita de caracteres. Caligrafia, mais que uma questão cultural, era usada antigamente para ilustrar o estatuto social e intelectual nas populações chinesa, japonesas e coreanas. Voltando ao presente... bem me esforço para reproduzir aqueles traços redondos e fugidos. Mas não me serve de nada bramir gestos inúteis com o pincel e esparramar caoticamente a tinta nas folhas A4 – há, de novo, uma forma e ordem correcta de os fazer, de quanta forca aplicar, de como posicionar as mãos. Cada fio do pincel tem de ser domado, a forma como cada um daqueles traços está desenhado é a diferença entre uma obra de arte e um rabisco sofrível. Caligrafia, agora percebo, é uma arte maior.
E foi nestes afazeres que no último Sábado acabei por ir a um museu dedicado ao poeta zen Mitsuo Aida em Tóquio (o qual era também admirado pelas suas qualidades de calígrafo). Devo dizer que muito do que estava escrito me passou despercebido (kanjis não são o meu forte!) - tinham umas traduções em inglês mas estas pareceram-me bastantes fracas na forma. Enfim, para mim foi mais uma questão de apreciar a beleza estética de bem escrever. Este museu fica no Fórum Internacional de Tóquio, o qual já aqui descrevi. Esta visita foi, na verdade, um compasso de espera para ir assistir a um leilão de arte moderna a convite da Keiko. Os lotes eram sobretudo arte moderna japonesa, séculos 19 e 20. Alguns exemplares interessantes e uma série deles a chegarem a uns valores exorbitantes. Os lances estavam tão rápidos que uma pessoa até tinha medo de se mexer não fosse o diabo tece-las e o homem do martelo enganar-se e pensar que estávamos a oferecer uns valentes milhões de ienes pelo colorido quadrado exposto à nossa frente!
Gambette kudasai!
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