Wednesday, December 05, 2007

Jardins de pedra e fogo

Terceiro e ultimo dia, mais um dia de templos em Quioto. Iniciamos o dia sentados na beira do jardim deserto e muito zen de Ryoan-ji - 15 pedras dispersas na gravilha que cobre uma área do tamanho de uma piscina de 25 m. Meditativo, no mínimo. De assinalar também o castelo Nijo. O chão deste palácio foi construído de tal forma que qualquer pessoa que por ali passe faz chiar o soalho. Pelos vistos, era um eficiente alarme contra ataques de ninjas e outros visitantes indesejados. No final do dia, tentamos ainda visitar o museu Manga mas chegamos tarde demais. Fecha as 17h00. Fica qualquer coisa para ver na próxima vez.
Da primeira vez que aqui estive, notei que os habitantes de Quioto são um tanto mais bruscos que o habitual no Japão. Nestes três dias confirmei uma diferença na atitude dos cidadãos desta cidade. Talvez sejas apenas contra as multidões de turistas que invadem todos os cantos da cidade regularmente. A principal razão para visitar Quioto e arredores nesta altura do ano, reside nos tons fogosos da folhagem Outonal. Imensos e variados tons de escarlate, castanho e amarelo. Parece realmente uma pintura de guerra, um quadro incendiário. Alias, foi por esta razão que estes três dias foram pontuados por uma autêntica enxurrada de japoneses. Esta cidade é um dos locais de eleição dos nipónicos para assistir a este espectáculo natural. E depois de ver, dou-lhes razão – embora o incómodo das filas por todo o lado seja muito, vale definitivamente a pena passar um ou dois dias por Quioto em Novembro.


Os bambis de Nara

Depois de acordamos, dirigimo-nos até Nara. O segundo dia foi dedicado aquela que foi a primeira capital a sério do Japão. Esta pequena cidade histórica conta com oito sítios classificados pela UNESCO como Património Mundial. Muitos dos edifícios originais (do século VII) sobrevivem ainda, alguns deles monumentos gigantescos totalmente em madeira. Para alem do enorme número de templos e jardins, Nara tem uma particularidade engraçada: uma grande área do centro da cidade é ocupada por um parque (Nara-koen) onde se passeiam, soltos e as centenas, veados domesticados. Dóceis, não só se deixam acariciar mas também vem comer na mão! Alguns são tão insistentes que mais fazem lembrar a praga dos pombos nas grandes cidades europeias. Se nos vêem com comida não dão descanso até abocanharem o pão, bolachas ou seja o que for que tenhamos! Um tanto estranho pois estes animais deveriam fugir ao primeiro vislumbre de um humano! Ao regressarmos a Quioto, fomos assistir a um espectáculo de artes e cultura nipónica no célebre bairro de Gion (ver o filme Memorias de uma Gueixa). Ao contrário do que se possa pensar as verdadeiras gueixas nunca foram prostitutas. Embora muitas delas tivessem um “protector” (eufemismo para amante, a meu ver) eram sobretudo entertainers que no seu tempo áureo (princípios do século XX) eram pagas principescamente. A exclusividade era de tal ponto que as casas e restaurantes onde actuavam recusavam qualquer cliente que não viesse com um habitual. O show que assistimos foi uma espécie de um apanhado que contou com a cerimónia do chá, bunrenkai, ikebana, etc. Uma hora de flashes da vida tradicional japonesa. Interessante para quem tenha apenas uma ou duas semanas no Japão. Para os que aqui vivem, sabe a pouco, muito pouco.

Tuesday, December 04, 2007

Coisas de Novembro

Durante o mes de Novembro duas ocorrências são de assinalar. Em primeiro lugar, há umas semanas atrás, tive o privilégio de rever a “Big Boss” dos meus tempos em Cambridge. A Prof. Alison Richard, vice-reitora da Universidade de Cambridge, esteve em Tóquio durante uns dias. Assim foi que organizaram uma recepção na Embaixada Britânica, para a qual fui convidado. Foi com alguma nostalgia que a ouvi discursar. Interessante foi também a inesperada presença da Princesa Takamado. Por alturas do PREC em Portugal, andava ela a estudar no Reino Unido, o que justificou a sua comparência.
O segundo evento foi o fim-de-semana prolongado de há 15 dias. Repetindo o feito do ano passado, fui junto com a Chamini e a Milica passar os 3 dias a fazer turismo. Em vez de Atami, escolhemos a região de Kansai, mais precisamente Quioto e Nara. Ambas as cidades são na realidade antigas capitais do Japão. Até ao século 7 o Japão não tinha uma capital permanente pois os mandamentos do Xintoísmo estipulavam que a capital deveria ser mudada aquando da morte do imperador. Com a introdução do Budismo, e seguindo uma série de reformas politicas, esta pratica foi abolida. Assim foi que Nara foi instituída como a primeira capital do Japão. Mas isto durou apenas 75 anos. Depois de umas afrontas com a poderosa classe clerical de Nara, a corte imperial preferiu recomeçar e escolher um novo local. Quioto foi a eleita e assim permaneceu até 1868. O primeiro dia foi dedicado a Quioto. Pessoalmente, já conhecia um pouco quando por aqui passei com a Kiran e a Ria. Mas, falta de tempo, foi-me impossível visitar aquele que para mim é o must-see desta cidade, o Pavilhão Dourado. Agora foi de vez. E realmente um templo diferente, de uma beleza extraordinária. Tal como referenciado por Mishima, a versão que agora podemos apreciar é uma reconstrução do original o qual foi destruído em 1950. Quioto é sobretudo uma cidade de templos, museus, jardins zen e palácios. Não será pois de espantar que este primeiro dia tenha sido passado a calcorrear uma quantidade absurda de templos e jardins.